sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A minha carta

A minha carta está, neste momento, nestes termos:

Exmo. Sr.

Sou uma cidadã como tantos outros portugueses que trabalha, contribui e paga os seus impostos sem esquemas, sem fugas.

Depois vejo empresas como o caso das petrolíferas que se aproveitam da falta de supervisão de uma suposta entidade reguladora, para manipularem e estipularem os preços que bem entendem e com isso levarem a economia por aí abaixo pois como bem dizem os nossos representantes (quando assim lhes dá jeito) "a energia é um pilar fundamental da nossa economia". Vemos o preço do barril de petróleo diminuir para cerca de um terço entre Julho 2008 e Novembro de 2008 (em 4 meses!!), representando os valores mais baixos desde Maio de 2005! No entanto, quando vamos abastecer, verificamos que a média do preço da gasolina de Julho a Novembro baixou entre 0,20€ a 0,30€. Onde está a regulação do mercado? Onde está a autoridade que deveria seguir estes dados e controlar as irregularidades do sector? À espera de algum escândalo como o caso do BPN? Em que tudo se deixa andar e depois se tenta "apagar o fogo"? Não é suposto EVITAR que esse "fogo" deflagre?! Como justificam os responsáveis e colaboradores dessa entidade os salários que recebem no final do mês?!
Não admira que a APETRO (Associação Portuguesa das Empresas Petrolíferas) não receie uma intervenção de Bruxelas. Pois claro, tem uma Autoridade da Concorrência, (rigorosíssima!!!) a controlar todos os dados e valores apresentados pelas petrolíferas e se essa Autoridade diz que está tudo bem é óbvio que está tudo bem. Não será a Comissão Europeia que deverá intervir em tão protegido sector ainda que considere muito estranhos os preços de combustível praticados em Portugal agora que o custo do barril está nos 50 dólares. E nem venha a CE insinuar que há falta de transparência no sector em Portugal porque a actuação da Autoridade da Concorrência tem sido intocável e inquestionável. É vergonhoso... Além disso, qualquer multa que lhes possa ser aplicada, ficará muito, mas MUITO aquém de todo o dinheiro já acumulado indevidamente. À custa dos portugueses! Portanto, a fatia não será significativa e enquanto isso, vai-se pagando os combustíveis e todos os produtos cujo preço disparou com a subida dos mesmos ao mesmo preço ou a preços ainda mais elevados. Porque quando o petróleo sobe, não se fazem tardar as subidas. Quando desce para cerca de 1/3, tudo se mantém praticamente inalterado. Absolutamente vergonhoso! É vergonhoso para as empresas que mantêm estas estratégias, para um Governo que se subjuga e se mantém à-parte destas questões e uma, mais uma vez, suposta "Autoridade" que não é capaz de actuar. Mas onde já se viu em Portugal alguém ter vergonha de ser incorrecto desde que o possa fazer sem consequências? São raros, infelizmente...

Eu nunca me interessei por política porque ao que vejo parece um circo de ofensas pessoais com sorrisos nos lábios quando se esquecem que deveriam era estar concentrados em fazer avançar o país e defender os direitos dos portugueses. Não os direitos dos seus próprios partidos ou dos seus membros. De TODOS OS PORTUGUESES!

Posso-lhe dizer com toda a sinceridade que não tenho orgulho em ser portuguesa, em pertencer a um país onde os "chico-espertos" e os "ladrões de gravata" afectam tantas pessoas e depois não são responsabilizados, onde políticos corruptos são novamente eleitos mesmo depois de terem fugido à justiça e ficar por isso mesmo. No entanto, tantos outros que trabalham e se vêem em dificuldades para pagar as suas contas porque recebem salários miseráveis ainda são "perseguidos" pelo fisco, pelos bancos e outros credores sem hipótese de recorrerem a ajuda. E então vêem vizinhos do lado, que nunca tendo trabalhado na vida ou pouco o tendo feito, recebem subsídios, ajudas e etc porque coitados nunca trabalharam. Recebem o dinheiro dos descontos que a tantos outros custa a ganhar. Onde está a justiça social destas situações? Não são tão poucos os casos. É só ver os pedidos de ajuda de bens essenciais, como alimentação, de tantas famílias às suas paróquias.

Infelizmente, este é apenas um dos exemplos do que corre muito mal neste país.

À conta disso e por tudo o que vejo à minha volta, tomei a decisão de sair deste país. Já vários amigos meus, licenciados como eu, procuraram um país decente onde viver e trabalhar. Onde poder constituir família, educar filhos sem terem de ser obrigados a lhes explicar que é normal em Portugal os parasitas viverem bem e que se eles também quiserem ter alguma coisa deverão fazer como esses mesmos parasitas e passar por cima de quem for preciso para se darem bem porque a justiça neste país não se aplica aos que podem pagar a bons advogados para empatar e se safarem.

Uma cidadã descrente no país.


P.S. - Sabendo que esta carta não chegará às mãos nem estas palavras passarão pelos olhos do Exmo. Sr. Primeiro Ministro, peço-lhe a si, Sr. Assessor ou Sra Assessora, que lhe faça um pequeno "resumo" que não consuma muitos minutos do vosso tempo e lhe comunique o meu desagrado e desapontamento... Obrigada.


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