terça-feira, 28 de outubro de 2008

O Portugal dos explorados

... Ninguém cai na pobreza por um querer consciente. Às vezes ela toca-nos à porta, sem qualquer anúncio. Por exemplo, quando as empresas fecham, por má administração ou porque a multinacional decidiu ir explorar outros povos ainda mais pobres, não há muito a fazer. Nestes casos, não há companhia de seguros que queira assumir o risco deste incerto evento. É num caso de situação de desemprego que o Estado, através da Segurança Social publica, deve actuar. Todavia, há situações muito próximas do desemprego, como o subemprego ou o emprego mal remunerado.

Há dias, numa cidade do litoral norte de Portugal, tivemos a oportunidade de constatar casos destes. Mais do que os inúmeros pedintes, que abordavam insistentemente as pessoas que passavam, chocou-nos a triste realidade da mulher-a-dias que não chega a ganhar o salário mínimo nacional e que, com o marido desempregado, procura alimentar três, quatro e às vezes mais, filhos. Por isso não fiquei admirado quando vi crianças, algumas em idade escolar, pelas ruas a pedir esmola. Como também encontrámos muitos jovens empregados de cafés e restaurantes a trabalharem dez a doze horas por dia para auferirem um salário sem futuro que, em valor líquido, não chegava ao nominal e já citado salário mínimo nacional. Esta situação vimo-la repetidas vezes nas lojas comerciais do centro da cidade.

Como explicar que uma chefe de família, responsável pelo dia-a-dia de uma unidade hoteleira, leve no fim do mês quinhentos euros para casa quando tem um filho e a sua mãe velhinha para sustentar? Como se pode explicar a vida de exploração sofrida pelo jovem empregado do turno da noite que, nesse mesmo estabelecimento, não goza os seus legais dias de folga e que nunca tenha gozado qualquer período de férias, porque “o patrão precisa dele”?! São estes casos que confirmam a triste realidade de um Portugal onde muitos exploradores coexistem com milhões de explorados! Porque não é só o Vale do Ave! Há muitos montes e vales deste País, no campo e nas cidades, onde não é permitido que o anónimo cidadão tenha uma vida decente. Porque será que os carros topos-de-gama esgotam e tenham fila de espera e os carros utilitários, mesmo com grandes campanhas publicitárias, tenham pronunciadas quedas de vendas?

Que país é este em que vivemos? É o nosso país, que permite situações como as descritas. Que, simultaneamente, glorifica os políticos corruptos e os patrões vigaristas ou ladrões, que lesam as Finanças e a Segurança Social com os mais vis esquemas do “homem lobo dos outros homens” e que nos são impingidos diariamente nas televisões como qualquer “conto do vigário”. Será que não é possível existirem em Portugal políticos sérios e empresários honestos? Temos a certeza que tal é possível. Pode levar anos, mas temos a convicção de que um dia a equidade e a justiça virão para ficar. Só precisamos acreditar e lutar por um Portugal de todos.

Afonso Pires, U S I - União dos Sindicatos Independentes


Este artigo de opinião é de Março de 2006. Entretanto não me parece que muito tenha mudado. E agora com esta situação de crise internacional poderá, infelizmente, agravar-se.

Quando eu digo que não gosto de viver cá, refiro-me a ser obrigada a conviver com situações como estas, muito mais comuns do que muitos de vocês pensam. Quem vai preocupar-se em continuar a estudar ou instruir-se mesmo que fora da escola, quando trabalha 10 a 12 horas por dia para ganhar um salário miserável que nem para sobreviver dá. E sublinho SOBREVIVER.

Quando este tipo de situações começarem a afectar-nos directamente, aí, nós, cidadãos comuns com rendimentos mais elevados, já vamos achar que é preciso fazer algo e inverter esta tendência. Porque nos vai doer na pele.

Até lá... Deixemos andar... É com os outros que se passa. Não nos afecta, não nos maça...

Sem comentários: